O ELOGIO DA PEQUENEZ Portugal é pequenino. O Portugal das revistas que fazem anos e fazem festas na televisão, duma plasticidade como dizia Zappa que me cansa os olhos. Não, não há elogio da pequenez, os argumentos anos-60-autocarro-58 'é somos pequeninos mas não nos acontece cá nada' são mais cruéis do que pensam e é verdade, não acontece cá nada, nada de mau, 'não há cá guerras' e nada de bom. Já se disse aqui 'irrita-me a rádio'. A mim também, porque é que eu faço uma se me sentisse bem com as outras? A rádio de hoje é um computador programado pelas editoras a vomitar músicas e, de vez em quando, um animador de rádio, que tem tanto de único como Hitler tinha de fofo. Há alguém que está lá das 3 às 7, outro das 7 às 11, ninguém sabe como se chamam, ainda agora ouvi num minuto de rádio cinco vezes o mesmo slogan, 'música à tua medida', mas o que é isso?, querem convencer-nos a nós ou a vocês próprios? Há coisas boas por cá. Estava a ler o Bruno ainda agora a fumegar indignação depois da palhaçada de vermelho que foi (eu não vi) a festa da Caras, Dizia ele Só um dia é que se vão aperceber que os bons não passaram por lá, e falava ele dos actores e dos humoristas deste país. Acredito. Pouquíssmos estão a trabalhar. É por coisas destas que eu gostava
mas gostava mesmo
que me dessem um espaço. Sabem isto que eu faço aqui, uma hora de rádio por dia, mais de um ano de zero ouvintes quase todos os dias?, é isso que isto é, um espaço. Onde posso ESCOLHER música, onde posso ESCOLHER aquilo de que quero falar, mostrar coisas que mais ninguém conhece, abrir espaço para que me mostrem coisas que eu não conheça. Gostava muito de abrir esse espaço a pessoas. Músicos com guitarras e coisas a dizer?, vamos a isso, bocas com verdades e palavras que funcionem como espelhos?, vamos a isso. Mas não tenho esse espaço. Tenho uma hora por dia de bits a navegar pela web, o mundo inteiro a não querer saber, e fica por aí. Por isso, por agora, Portugal é, e vai continuar a ser, muito pequenino. Temos os bons que nos mantêm (e ainda são alguns), um bom Lobo Antunes no autocarro, um Herman quando tem os processos todos, o piano de um Palma e uma guitarra de um Jorge Cruz e vozes (algumas ainda na rádio, a minha escola: Ribeiro e Markl) que pensam. Fora isso, não há elogio da pequenez. A minha escola (e foi o Herman que me ensinou) está do lado de lá do canal. Imprimo o jornal de lá para ler todos os dias, ouço Andrew Collins ou o Lamacq em vez de ligar o rádio, vejo Mayall dentro de discos depois da uma. Descobri mais alguém que me faz rir sem parecer esforçar-se muito. Tim Dowling. Suave. Sentir que continuo a aprender sempre é com o lado de lá. Façam isto: Façam de conta que a palavra 'manifesto' está estampada ao longo deste texto. Ou não. Eu só queria um espaço para poder mostrar coisas a este país. Vamos lutar por isso? RC