IT'S A LONG, LONELY JOURNEY Já não sei a que propósito, uma pesquisa cruzada levou-me a um filme que andava por aqui à espera que eu voltasse a ele. O problema de Portugal é este, ouvimos falar de filmes quando eles se fazem lá por fora e antes que cá cheguem já os esquecemos. Chama-se Last Days, e é Gus Van Sant a especular sobre Kurt Cobain. Numa casa, e na floresta à volta dela, vemos vaguear um Kurt Cobain, de movimentos zombie, chamado Blake - por razões legais -, estrela maior da música cujas últimas horas são isso mesmo: ele consigo próprio. Só. Todos sabemos a estória de Cobain e podemos especular também um bocadinho. Mas o que Van Sant quer, parece-me, é rodear-nos de solidão e de um herói (ou anti-herói?) que se tenta destruir aos poucos. Ainda não vi o filme. Se tudo correr bem daqui a duas horas e cinquenta e um ele vai chegar - perguntas sobre como só respondo na presença do meu advogado -, mas para percebermos o filme basta entrar
aqui e fechar os olhos. A sério, cliquem
aqui e deixem que essa música deliciosamente assustadora entre. Aos poucos. Sentem aí o 'é que não se apanha uma!' de Kurt Cobain? Quem canta é Michael Pitt,
actor extraordinaire, e a música chama-se 'From Death to Birth'. Michael Pitt entrou no panteão de Putos-Com-Poucos-Mais-Anos-Que-Eu-Mas-Que-Se-Fazem com o filme Os Sonhadores de Bertolucci, um dos melhores de 2004. Fui revê-lo ainda agora, e continua lá tudo. Aquele apartamento não parece real, lá as regras subvertem-se. A cena da banheira com os espelhos. Sublime. A palavra cinema está dentro daquele filme. Quanto a Michael Pitt, o Blake do Last Days - duas horas e trinta e sete agora -, escreve-se que ele segura o filme, o pouco diálogo que há regista o vazio dentro de Blake. Michael Pitt a vaguear. Procurem.
RC
0 pessoas acharam bem comentar “”
Leave a Reply