POST FILMEM Há duas coisas que podem acontecer com filmes sobre os quais já sabemos coisas. Ou vamos determinados a odiá-los, ou vamos determinados a adorá-los. Last Days é dos últimos. E, olhem, aconteceu. Gus Van Sant escreve e realiza este falso biopic de Kurt Cobain, um retrato confuso e nada detalhado dos últimos dias de um cantor barra compositor, Blake, perdido em si mesmo. Van Sant filma Blake - Michael Pitt, mas a ele já vamos - de costas, a vaguear por ali, aparentemente sem rumo, de cabeça baixa e a vomitar um diálogo quase inaudível, como se estivesse a responder às mesmas perguntas dos mesmos jornalistas que o levaram ao topo. Perde-se nas suas acções, um corpo quase morto que já não lhe obedece, conseguimos ver Blake a paralisar e a deixar de ouvir quem quer que fale com ele. Escreve. O diálogo, quase, não existe, e o som do filme é um ampliar de sons. Hildegard Westercamp compõe uma mistura de sons confusos como a voz interior de Blake, e, por uma vez apenas, vemo-lo a cantar. Michael Pitt empresta várias músicas suas, como a 'From Death to Birth', a este personagem perfeito. Grande, grande actor. Tudo o resto do filme é um bocado difícil de ver, há outras personagens, ok, mas Pitt ocupa todo o ecrã, é impossível não estar a olhar para ele, ali, imóvel, a cair aos bocados. Gus deu ao filme uma estrutura cruzada, saltada, voltamos aos mesmos sítios para irmos para outros. Um dos últimos stills?, 'In memory of Kurt Cobain 1967-1994'. É, parece-me, um exercício de paixão e de procura do porquê, porquê Kurt Cobain (se) destruiu. Muito bom. Bom para dias de cabeça vazia. Não serão quase todos?
RC
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